sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Por um par de pernas, perdemos a cabeça


Por um par de pernas estudantes perderam a cabeça. Devido à pele exposta de coxas, vimos universitários virarem animais irracionais. Por uma minissaia, uma estudante foi exposta ridicularizada e humilhada. Pelo machismo presente hoje em dia, uma jovem, bonita e de belíssimas pernas passou vergonha e virou história nacional. Pela idiotice, aqueles que deveriam se firmar como pensadores livres se tornaram trogloditas infames.

Pela covardia e pela inveja, outras garotas não deram apoio a uma colega, mas mostraram que andam conforme a sociedade deseja. Por sua hereditariedade aqueles que deveriam ser civilizados tornaram-se animais em grito de repulsa. Pela sua própria beleza, uma garota escolheu um vestido rosa com saia curta para ir à faculdade, valorizou o seu ego, incomodou o mundo preto e branco.

Por burrice e por uma falsa idoneidade a faculdade puniu a vítima e apoiou os culpados. Numa mistura de inversão de valores, vítima se tornou ré e ré se tornou vítima. Tentando mostrar uma justiça inexistente, o Brasil saiu perdendo e a menina do vestido rosa chorou para ele. Por uma busca de uma vida normal, ela declarou só querer terminar o semestre. Pela ignorância e por um par de pernas vimos o país virar vergonha. Pelos portugueses que aqui chegaram, repudiamos o corpo de nossos iguais e tornamos pecado o que nos acompanhará por toda a vida.

Um vestido rosa mudou a vida de uma menina. Um vestido rosa mudou a vida de uma universidade. Um vestido rosa mudou a vida de um país. Um vestido rosa mostrou que nossa involução ainda é maior que a nossa evolução.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Resenha Cinema: CHE – Part Two


Como falei no mês passado do filme CHE, aproveitei esse final de semana, fui ao Centro de Cultura Mário Quintana e assisti a continuação da cinebiografia contada por Steven Sodenbergh. A parte dois do filme Che se torna massante em comparação com o primeiro filme. Enquanto a primeira parte relata o triunfo de CHE e a Revolução em Cuba, sua continuação relata as últimas horas do guerrilheiro abrindo suas ações junto à Bolívia. São os últimos dias do homem que tentava mudar a situação dos países latino-americanos.

Se no primeiro filme as idas e vindas na história traziam mais dinamismo, nessa segundo parte elas inexistem e tornam o filme mais massante. A ação quase não aparece, são apenas duas horas do guerrilheiro fugindo ou se escondendo e do governo boliviano, juntamente com as forças norte-americanas indo à caça dos revolucionários. O roteiro se ateve apenas a contar em ordem cronológica todo o sofrimento de Guevara em um país que pouco o aceitava, mas que ele acreditava que iria mudar.

A câmera desenfreada é a única coisa que torna o segundo filme um pouco mais atraente. Em certos momentos você parece ser um dos seguidores, correndo, se escondendo e principalmente sofrendo. Enquanto o primeiro filme mostrava a glória e a estratégia, o segundo mostrou o sofrimento e a traição. Cada momento a revolução era traída pelo próprio povo da Bolívia. Como o filme é baseado no próprio diário de Ernesto Guevara, pode-se perceber que mesmo nos momentos de extrema dificuldade ele mantinha sua índole.

O que se salva nessa segunda parte realmente é a atuação de Benício Del Toro e da maquiagem. De cara vemos Ernesto entrando na Bolívia disfarçado e completamente irreconhecível. O ator deu total ênfase às crises de asma que Guevara sofria por estar no meio da mata, tendo que enfrentar não apenas sua saúde, mas as divergências internas entre seus companheiros. Se o ator conseguiu demonstrar tanto a debilidade de CHE, quanto a imponência dele como líder.

O final todo mundo sabe: Che Guevara morre. Mas o filme deixa uma pergunta no ar, quem morreu naquele momento foi CHE ou fomos nós mesmos? A resposta dessa pergunta todos sabemos, afinal o mito morreu tentando dar condições aos povos latinos e se não conseguiu isso ao menos deixou sua imagem como estímulo. A Bolívia continuou sofredora e agora é governada por Evo Morales, um camponês que colhia folhas de coca e hoje governa a Bolívia para seu próprio povo.